Secretário de Educação de Barueri faz discurso capacitista
Celso Furlan, então Secretário de Educação de Barueri, município da região metropolitana de São Paulo, foi exonerado, na última sexta-feira (16), depois que um áudio seu vazou nas redes sociais com afirmações extremamente grosseiras e ofensivas contra as pessoas com deficiência. Furlan afirmou, entre outras aberrações, que “algumas pessoas com deficiência não têm condições de aprender”. Ele foi além: “o cadeirante que não mexe nenhum membro, nada, todinho torto(sic), todinho deficiente, não tem condição de aprender nada”. As agressões do ex-secretário de educação, de EDUCAÇÃO (repito e coloco em caixa alta), também foram direcionadas às mães. Ele explica(?) por que as mães levariam os filhos à escola. “Para ficar livre do filho quatro, cinco horas. E nós não temos como. Não aprendemos a lidar com isso ainda”. Honestamente, não sei qual declaração é mais nauseante.
Até quando nós seremos obrigados a conviver com esse tipo de gente? Vale lembrar que o senhor Celso Furlan não inventou a roda. Em 2021, o então Ministro da Educação do governo de Jair Bolsonaro (PL), Milton Ribeiro, declarou que “12% do total de crianças com deficiência matriculadas na rede pública de ensino têm um grau de deficiência que é impossível a convivência”. Milton Ribeiro é o mesmo que falou que crianças com deficiência “atrapalham” o aprendizado de outros estudantes e, assim, defendeu a criação de salas especiais para receber esses alunos. Eu reconheço que a existência de salas especiais para estudantes com deficiência é um tema complexo e que não cabe agora, neste texto. Muitas pessoas defendem, nem todas por capacitismo, mas sim por desconhecimento do assunto. Contudo, a ideia vai na contramão do que se defende entre os pais e educadores quando a discussão é o ensino inclusivo.
Celso Furlan e Milton Ribeiro são capacitistas. Não são, simplesmente, incompetentes. Eles sabem exatamente do que estão falando. Acreditam mesmo que crianças com deficiência são inferiores e devem ser tratadas como tais. Milton Ribeiro apelou para “questões políticas” como justificativa da má repercussão de suas palavras. Celso Furlan foi menos “criativo” e disse que suas palavras “foram retiradas do contexto”. São capacitistas e covardes. Qual foi o contexto da sua fala, ex-secretário? Por que se referir a uma criança como “um cadeirante todo tortinho”? Qual a relevância? Uma pessoa com deficiência não consegue aprender? Quem disse? O aprendizado é diferente? Sim, sem dúvida. O aprendizado de todos é diferente, ex-secretário. Uns aprendem mais rápido, outros têm mais dificuldade. Assim, é a vida. Escola é lugar de diversidades de gênero, religião, raça e aprendizado. Cabe ao educador, o que o senhor deveria ser, encontrar formas e ferramentas para potencializar o aprendizado, não dizer que não pode e mandar a fila andar.
A deputada estadual, Andréa Werner (PSB/SP), ativista dos direitos dos autistas, subiu à tribuna da Assembleia Legislativa de São Paulo para denunciar Celso Furlan e apresentar alguns dados adicionais. Seu gabinete teria recebido a informação de que o substituto do ex-secretário, no comando da pasta, seria César Alexandre Padula Miano, secretário-executivo e advogado pessoal de Celso Furlan. Isso mesmo, o responsável pela defesa legal do capacitista será o novo secretário municipal de educação de Barueri. Andréa Werner classificou a decisão do prefeito, Beto Piteri (Republicanos), como “escárnio” e eu assino embaixo. A deputada afirmou não ter a confirmação do fato, mas a coluna encontrou matéria no site Giro, em que confirma a nomeação do advogado. Fica o questionamento: quem, de fato, dará as ordens na secretaria? Celso Furlan foi mesmo exonerado ou tudo não passou de cortina de fumaça para acalmar as críticas diante de suas declarações criminosas?
Celso Furlan, segundo a deputada paulista, teria afirmado, em 2023, que o “Autismo é resultado de um f*** mal dada”. Andréa Werner é mãe de um autista. Portanto, ela se sentiu pessoalmente atingida por essa frase horrorosa. E mais: Celso Furlan falou que as mães mandariam seus filhos deficientes para a escola para “se ver livres deles por quatro, cinco horas“. Andréa Werner lembrou que a maioria das mães de alunos de escola pública é de baixa renda e aproveitam o momento dos filhos na escola “para ir ao mercado, pagar uma conta ou comparecer ao médico”. Essas mães também não têm uma rede apoio. Aprenda, senhor ex-secretário. Este sujeito abjeto precisa mais do que simplesmente ser demitido. Fátima Braga, presidente da Associação Brasileira de Atrofia Muscular Espinhal (ABRAME), publicou nota oficial repudiando a fala de Celso Furlan e cobrando punição legal. É o mínimo. O Ministério Público precisa agir.
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