Henrique Beltrão, um ser humano de bem

30/06/2012 Notícias 5
Henrique Beltrão e sua amada, Karla Martins

Henrique Beltrão e sua amada, Karla Martins

Entrevistar Henrique Beltrão valeu demais para minha formação pessoal. Isso porque imaginava entrevistar um professor e artista que criou um programa sobre pessoas com deficiência na Rádio Universitária e que a entrevista giraria em torno desse programa. No entanto, o bate-papo (sim, bate-papo, muito mais do que entrevista) tomou um rumo muito mais interessante e pessoal. Inicialmente marcada para as nove horas, somente teve início às dez, por um problema de saúde que o fez se atrasar. Ao dizer que poderíamos remarcar, ouvi-o retrucar que “não gosto de desmarcar meus compromissos”. O respeito pelo compromisso se mostrou também respeito, admiração e amor pelo ser humano, ao longo da conversa.

Nos quase sessenta minutos de papo bom e descontraído, Henrique Beltrão se apresentou como um homem simples, humilde, respeitoso e afetuoso. Aliás, como suas poesias, como diria o professor e escritor Carlos Vazconcelos: “a poesia de Henrique Beltrão é antes de tudo afeto, é o que pulsa no coração e ressoa na alma. Tudo dito com naturalidade. Daí os títulos Vermelho (leia-se à flor da pele) e Simples (leia-se translúcido). A ele só interessa cantar a essência poética, sem preocupações profundas com as formalidades que arruínam tantas intenções. Sua engenharia é simples sem ser simplória”.

Faltando cinco minutos para encerrarmos, lembrou da mãe, Dirlene Marly Beltrão de Castro, já falecida, e portadora do Mal de Alzheimer. “Lembro de minha mãe, internada, e as enfermeiras comentando ‘é a doida do quarto tal’. Elas não sabiam que aquela senhora era uma artista, virtuose do piano, da sanfona. Tinha sim problemas psíquicos, mas sempre muito amorosa, honesta, linda. Quem a conhecia, sabe disso”, afirmou com a voz embargada e os olhos marejados de saudade. Para ele, o amor é o essencial no ser humano. “Ser poeta, ser amoroso e ser sensível é muito bom, mas é desafiante. Eu amo com o amor dos outros, sofro com o sofrimento deles, é como se fosse eu. Acho um absurdo que as pessoas menosprezem sua afetividade, que vejam os poetas como doidinhos, malucos. Poetas são artistas e artistas são pessoas sensíveis. Quando fiz Todos os Sentidos, disse para ao menos nos respeitar uns aos outros, já que não conseguimos amar uns aos outros”.

Henrique e o filho Ravi, na França

Henrique e o filho Ravi, na França

A poesia está presente na vida de Henrique Sérgio Beltrão de Castro, 45, desde sua infância. Já fazia versos quando menino, precisava fazer versos, mas somente os publicou aos 40 anos. É autor de dois livros de poemas e canções, “Vermelho” (lançado em 2006 em primeira edição e um ano depois em segunda) e “Simples” (2009). Sua amada esposa, a psicóloga Karla Martins, afirma: “o Quinho tem uma raiva, faz um poema; tem uma alegria, faz um poema”. Muitos de seus poemas e canções foram gravados por cantores cearenses, como Pingo de Fortaleza, Calé Alencar, Joana Angélica, Simone Guimarães com participação do Fagner, entre outros. A poesia também serve de inspiração para sua vida, nas palavras de Mário Quintana, Fernando Pessoa, Manoel de Barros, Tiago de Melo, constantemente citados na entrevista.

É pouco? É nada. Henrique é professor adjunto do Departamento de Letras Estrangeiras da UFC, com atuação no curso de Letras: Português – Francês, mestre em Lingüística Aplicada pela UECE, doutor em Educação Brasileira pela Faculdade de Educação da UFC com doutorado sanduíche na Université de Nantes, França, sob orientação da professora Martine Lani-Bayle. Sua paixão é a linguagem. Sua paixão são histórias de vida e formação. Sua paixão é a afetividade. “Minha relação com afetividade vem de longe. Afetividade não é só ser afetuoso, mas são todos os sentimentos”, disse. Henrique Beltrão não é Martin Luther King, o grande líder do movimento negro americano, autor da célebre frase “I have a dream” (Eu tenho um sonho). Mas, assim como ele, também tem um sonho: “eu tenho um sonho de um mundo inteiro acessível, mais justiça, com as pessoas mais verdadeiras, sinceras, vivendo seus afetos”.

O radialista Henrique Beltrão vê o rádio como arte. E sua capacidade de trabalhar em rádio e ser um entrevistador vem de seu pai, José Franácio de Castro, “meu poliglota silencioso”. Segundo ele, o pai o ensinou a escutar. E escutando, ele aprende. Escutando, ele comunica. “Meu pai e minha mãe fizeram de mim um homem de bem. Sou um servidor público, pra servir ao povo. Sou um poeta e o artista tem o compromisso com o próximo”. Ele afirma que vem nesse caminho de auto-conhecimento, amor e arte. Sentimento de amor e gratidão aos amigos, parceiros de poesias e canções como Rogério Franco, Jord Guedes, Alex Costa, Dumar, Wilton Matos, Pedro Rogério, Rodrigo BZ, Rafael Lima, Marcos Paulo Leão, Isaac Cândido e Paulo Branco.

Os agradecimentos especiais ele reserva para os mestres, os pais, o filho Ravi, 22, psicólogo, e para sua amada Karla Martins, que está grávida de cinco meses de “uma princesinha para embelezar ainda mais esse mundo”. Haverá poema para ela? Com absoluta certeza.

Leia mais:
Todos os Sentidos dá voz às pessoas com deficiência

Receba um e-mail com atualizações!

Assine e receba, gratuitamente, nossas atualizações por e-mail.

Eu concordo em informar meu e-mail para MailChimp ( more information )

Nós jamais forneceremos seu e-mail a ninguém. Você pode cancelar sua inscrição a qualquer momento.

Compartilhe:

5 Comentários

  1. Henrique Beltrão 01/07/2012 Responder

    Victor,

    Amigo meu, quanto generosidade!
    Tanto da vida quanto sua. Da vida em me dar o presente de te encontrar. Sua, em tecer este encontro.

    Ler você me deixa sem palavras.
    Deixo em silêncio ecoar:
    Gratidão.

    Henrique Beltrão

    • Victor Vasconcelos 01/07/2012 Responder

      Generosidade não é bem a palavra, mas sim, reconhecimento. Por quem vc é, pelo que vc faz. Não sou tão amigo das palavras quanto vc, às vezes, elas me faltam. Mas, procuro, na minha simplicidade, dar meu recado. Grande abraço.

  2. Ernani Franklin 01/07/2012 Responder

    Ele é isso aí. É meu pequeno irmão que cresceu e se tornou um GRANDE IRMÃO.
    Precisa dizer muito não…

    Parabéns pela iniciativa de vocês.

    Continuem,continuem…

    EF

  3. Alexandre Araújo Costa 02/07/2012 Responder

    Posso dizer que tenho o privilégio de conhecer essa grande figura humana, inspirada e carinhosa, de coração vermelho e simples, chamado Henrique Beltrão. Belo texto, justa homenagem.

  4. Cláudia Lousada 02/07/2012 Responder

    Parabéns,Quinho! Você é isso tudo mesmo!!!

    Sou sua fã.

    BJS.

    Cláudia Lousada

Deixe o seu comentário!