Se só um dia foi assim…

21/09/2012 Notícias 0
Foto: Edimar Soares, Jornal O Povo

Foto: Edimar Soares, Jornal O Povo

Imagine se para ir a um estádio de futebol você precisasse criar uma logística própria para assistir a um simples jogo. Pois esta é a realidade de muitos cadeirantes apaixonados por futebol e insistem em frequentar o único estádio disponível em Fortaleza: o PV.

Além de dar trabalho, é preciso contar com “jeitinho”, improvisar, ter paciência e muita determinação. O POVO acompanhou uma destas pessoas durante o jogo entre Ceará e Joinville, que nada mais queria do que assistir tranquilamente um jogo do time do coração. Aproveitando o “Dia Nacional de Luta das Pessoas com Deficiência”, comemorado hoje, 21 de setembro, mostramos que ver a bola rolando no PV é uma missão quase impossível para alguns.

Aguente se puder

Cilas Antônio Nogueira Silva, 51, é técnico em petróleo, torcedor do Ceará e cadeirante desde 1985 vítima da violência em nossa cidade quando, em um assalto, levou dois tiros, um deles atingindo a medula. Frequenta “religiosamente” o PV e, por isso, me desafiou a acompanhá-lo desde a porta de casa, no bairro Vila União, até o fim do jogo do Vovô. Foi o que fiz.

Chegamos ao estádio às 15h30min, meia hora antes. A entrada de Cilas foi até tranquila, já que o carro fica no estacionamento da FCF, ao lado do estádio, por conta da dificuldade de se locomover pelas calçadas na redondeza.

Nas oito primeiras vagas para cadeirantes, no interior do PV, do lado oposto às cabines de imprensa, já um obstáculo: uma bandeira imensa dos torcedores cobria a placa de “reservado”. Por já conhecer bem o espaço, Cilas não se atrapalhou. Colocou a cadeira de rodas no local correto.

Por ficarem no nível do campo, portanto sem elevação alguma, e recuadas em relação aos primeiros assentos, as vagas têm visibilidade bastante limitada. Antes do início do jogo e até mesmo com a bola rolando, torcedores ficavam transitando à frente de Cilas ou em pé, rente ao vidro que separa a arquibancada do campo. O resultado? O cadeirante não vê jogo, só gente na frente.

Como os locais reservados ficam nas laterais, Cilas aponta ainda outro entrave: o reflexo do vidro faz com que ele enxergue mais a imagem das cadeiras do que a própria partida.

A solução encontrada por ele é improvisar. Com ajuda do filho Diego Sampaio, 17, e do sobrinho Thiago Colares, 24, conduz a cadeira de rodas para o centro da galeria à frente das arquibancadas e não vê o jogo de frente, mas de lado, para não impedir a passagem dos torcedores. O problema é que ele fica virado sempre para onde o Ceará ataca, não sendo possível ver quando o time é atacado.

Quem pensa que nas outras vagas especiais é diferente, engana-se. Indo para o outro lado do campo, à esquerda das cabines de imprensa, as barreiras vinham de dentro do campo. Aparelhos de som para animar a torcida tapavam a visão do campo, além do barulho ensurdecedor. Impossível ficar lá. Já as vagas à direita, são destinadas à torcida visitante.

Na parte superior, no setor especial, onde Cilas pagaria mais caro pelo ingresso, o distanciamento das barras de ferro exige cadeira de rodas sempre travadas para evitar deslizamento. E as vagas ficam ocupadas por torcedores em pé. “Os cadeirantes que vinham comigo desistiram. Ainda venho porque tenho esses dois anjos (Diego e Thiago). Imagina quem não tem ninguém?”.

* Esta matéria foi retirada do Jornal O Povo e é de autoria da jornalista Taís Jorge

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