Medicamento talidomida causa deformações em bebês

04/10/2012 Notícias 0
Mulheres grávidas não podem usar a talidamida

Mulheres grávidas não podem usar a talidamida

A talidomida chegou ao mercado pela primeira vez na Alemanha em 1º de outubro de 1957. Foi comercializada como um sedativo e hipnótico com poucos efeitos colaterais. A indústria farmacêutica que a desenvolveu acreditou que o medicamento era tão seguro que era propício para prescrever a mulheres grávidas para combater enjôos matinais, sendo rapidamente prescrita a milhares de mulheres e espalhada para todo o mundo, com exceção dos Estados Unidos. Os procedimentos de testes de drogas naquela época eram muito menos rígidos e, por isso, os testes feitos na talidomida não revelaram seus efeitos teratogênicos (ramo da ciência que estuda o desenvolvimento anormal).

No final dos anos 1950, foram descritos na Alemanha, Reino Unido e Austrália os primeiros casos de malformações congênitas onde crianças passaram a nascer com focomelia (anomalia que impede a formação normal de braços e pernas), mas não foi imediatamente óbvio o motivo para tal doença. Os bebês nascidos desta tragédia são chamados de “bebês da talidomida”, ou “geração talidomida”. Em 1962, quando já havia mais de 10.000 casos de defeitos congênitos a ela associados em todo o mundo, a talidomida foi removida da lista de remédios indicados. Os Estados Unidos foram poupados deste problema graças à atuação firme de Frances Oldham Kelsey, farmacologista encarregada pelo FDA (Food and Drug Administration) de avaliar os testes clínicos apresentados pela indústria.

Talidomida não pode ser comercializada

Talidomida não pode ser comercializada

Cientistas japoneses identificaram em 2010 como a talidomida interfere na formação fetal. Eles descobriram que o medicamento inativa a enzima cereblon, importante nos primeiros meses de vida para a formação dos membros. Por um longo tempo, a Talidomida foi associada a um dos mais horríveis acidentes médicos da história. O médico endoscopista Magela Frota afirmou que “a talidomida mostrou ao mundo a seriedade e os perigos que a criação de novos remédios devem receber”. Por outro lado, estão em estudo novos tratamentos com a talidomida para doenças como o cancro, câncer de medula, lúpus, alívio dos sintomas de portadores do HIV, diminuição do risco de rejeição em transplantes de medula, artrite reumatóide e, já há algum tempo, para a lepra.

Segundo o clínico geral Felipe Silva Néri, a talidomida pode ser utilizada como parte do tratamento de algumas doenças auto-imunes, desde que acompanhadas e prescritas por um médico e ainda sendo esclarecidos os efeitos colaterais. Felipe Néri não descarta a possibilidade de mulheres que tomaram talidomida engravidar. “Só não pode engravidar durante o período em que estiver usando a medicação”, disse. A Portaria nº 354, de 15 de agosto de 1997, do Ministério da Saúde, proíbe mulheres em idade fértil em todo o território nacional de utilizar a talidomida. No entanto, a Associação Brasileira dos Portadores da Síndrome da Talidomida (ABPST), admite que “apesar da proibição, em casos especiais, médicos receitam as droga”. Para esses casos, são previstas sanções legais, cabendo observar que mesmo com a assinatura de Termo de Esclarecimento aos Pacientes e Termo de Responsabilidade Médica, ambos podem ser responsabilizados pelo mau uso da droga.

Ainda segunda a ABPST, tem sido demonstrado que apenas o uso de anticoncepcionais por mulheres em idade fértil não é suficiente para prevenir a ocorrência de nascimentos de crianças com Síndrome da Talidomida, pois a droga inibe o efeito dos anticoncepcionais. “Portanto, deve-se usar o máximo de métodos contraceptivos para maior segurança. Além disso, é de extrema importância que todos os exames disponíveis de gravidez sejam utilizados (ex: urina, BHCG, etc)”.

Infográfico mostra efeitos da talidomida no feto

Infográfico mostra efeitos da talidomida no feto

Para os pacientes masculinos, conforme a Resolução n° RDC 140/2003 da ANVISA, a bula do medicamento informa que “os homens que utilizam a Talidomida e mantêm vida sexual ativa com mulheres em idade fértil, mesmo tendo sido submetidos à vasectomia, devem ser orientados a adotar o uso de preservativo durante o tratamento” e ainda “sobre a importância dos usuários não doarem sangue ou esperma”. Pseudo-abdomem e neuropatia periférica são efeitos colaterais que os pacientes apresentam após o uso contínuo da talidomida. Tais efeitos geram dores insuportáveis, só aliviadas com aplicações moleculares, que têm custo elevado e, até agora, não são fornecidas aos pacientes por parte do Estado.

Em agosto deste ano, segundo site da Revista Veja, o laboratório Grünenthal, empresa alemã que produziu a talidomida em 1957, manifestou-se pela primeira vez em 50 anos, pedindo desculpas pelos danos causados pelo seu medicamento. O pedido ocorreu durante a inauguração de uma estátua em homenagem às vítimas na cidade de Stolberg, sede do laboratório. “Pedimos o perdão por não termos encontrado uma maneira de chegar até vocês ao longo dos últimos 50 anos”, afirmou em um discurso Harald Stock, chefe-executivo do laboratório. “Pedimos que encarem nosso longo silêncio como um sinal do choque que o destino de vocês causou em nós”.

O texto afirma que as desculpas, com mais de 50 anos de atraso, não foram bem recebidas pelas associações que representam as vítimas da talidomida. Na Inglaterra, a associação Thalidomide Agency UK, cobrou da empresa, além de palavras, indenizações. Claudia Maximino, presidente da Associação Brasileira dos Portadores da Síndrome da Talidomida (ABPST), disse ao site de VEJA que o pedido do Grünenthal é “uma palhaçada” e não faz a menor diferença na qualidade de vida das vítimas. “O que um pedido de desculpas muda nas nossas vidas? Continuamos com pensões miseráveis (pagas pelo INSS), que estão cada vez mais defasadas. Uma estátua não muda nada”, disse ela, que nasceu em 1962 com problemas nos quatro membros após sua mãe usar talidomida durante a gravidez. De acordo com dados do INSS, o Brasil possui cerca de 800 pessoas que sofreram os efeitos da droga. Segundo Claudia Maximino, ainda são registrados casos de pessoas que nascem com a Síndrome. “O caso mais recente foi em 2010, no Maranhão, quando o governo distribuiu talidomida para os doentes ao invés de aplicá-la nos hospitais, chegando nas mãos de mulheres grávidas”, afirmou.

Mais informações: Associação Brasileira dos Portadores da Síndrome da Talidomida: https://www.talidomida.org.br/

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