Associação de Pais e Amigos de Autistas torna Missão Velha uma cidade acessível
Quando Pedrinho tinha dois anos de idade, Ana Moésia e Frank Macêdo suspeitavam que ele viesse a apresentar algum problema de audição, já que não atendia quando era chamado, não respondia a barulhos e era apático na maior parte do tempo. Depois de todos os exames descartarem essa possibilidade, restou o diagnóstico de Transtorno do Espectro Autista (TEA). Pedro Igor hoje tem 7 anos e vem motivando mudanças não só na rotina da sua casa, mas na escola onde estuda, na cidade de Missão Velha e em todo o Cariri. Isso porque a sua condição inspirou seus pais a criarem a Associação de Pais, Profissionais e Amigos de Autistas do Cariri (AMA).
Uma das primeiras ações que a AMA promoveu em Missão Velha foi um mutirão de dois dias, em 15 e 16 de agosto do ano passado, quando neuropediatras, psiquiatras, psicólogos, psicopedagogos, terapeutas ocupacionais, advogados e assistentes sociais fizeram uma força-tarefa para levantar diagnósticos de crianças e adolescentes de várias cidades vizinhas, instruí-los em relação à cobrança de benefícios e aconselhamentos diversos. Edilânia Maria da Silva, mãe de Matheus, nessa mesma época lutava para que a Prefeitura Municipal cumprisse a lei e desse ao seu filho o tratamento e os medicamentos que ele necessitava. Juntos, Edilânia e a AMA conseguiram fazer com que a Secretaria de Saúde naquela cidade atuasse como devia.
Só em 2012, passou a vigorar a Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista, garantindo a elas acesso à saúde, previdência social e educação de qualidade. Ainda assim, os convênios se recusam a aceitar inscrição de pacientes autistas, os planos de saúde limitam a quantidade de sessões a doze por ano (eles geralmente atendem a duas sessões por semana) e as prefeituras alegam falta de verba para os medicamentos solicitados. As escolas, que deveriam servir de refúgio, impõem dificuldades na hora de matricular alunos autistas e, quando não há nada mais a ser feito, apenas permitem a entrada da criança na sala, mas sem estimular inclusão.
Cento e quinze diagnósticos de autismo foram levantados pela Secretaria Municipal de Educação de Missão Velha em escolas públicas do 1º ao 9º ano do Ensino Fundamental, no ano de 2013. Esse número pode ser assustadoramente maior na cidade, que tem 35 mil habitantes. “São 115 nas escolas públicas. E quantos seriam nas particulares? E, entre adultos, entre os autistas que a família prefere esconder porque sente vergonha?”, questiona a assistente social Giselle Magalhães. “O que a gente tem de oferecer no momento é orientação, esclarecimento e apoio às famílias”, Frank explica, “porque uma associação com um ano de fundação e aproximadamente 60 sócios não consegue verba para fazer muita coisa. Não temos estrutura, aparelhos, sede, funcionários e profissionais contratados”.
A AMA recebeu recentemente o título de Utilidade Pública no município; conseguiu fazer com que a Câmara aprovasse uma lei que reduz a carga-horária de funcionários públicos que têm filhos com deficiência; lutou até ver o Centro da cidade possuir acessibilidade para cadeirantes e, desde o ano passado, está presente na pós-graduação em Saúde Mental com Ênfase em TEA, que eles insistiram para trazer à cidade, funcionando no campus da Universidade Regional do Cariri (Urca) naquele município. A quem agradecer por Missão Velha se tornar uma cidade acessível às pessoas com deficiência? Ao Pedrinho, à Ana, ao Frank, à Edilândia e aos pais e associados da AMA.
* Legenda da foto principal: Ana Moésia (à esq), mãe de Pedro Igor, e Edilânia Maria da Silva, mãe de Matheus
** Matéria e fotos retiradas do site Cariri Revista (clique aqui)
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