Marisa – do luto à luta
Marisa Letícia Lula da Silva foi primeira-dama da República por oito longos anos. No entanto, jamais se portou como quem fosse esposa do homem mais importante do País entre janeiro de 2003 e janeiro de 2011.
Marisa sempre foi dona de uma discrição sem par, aliada a uma elegância sem ostentação. De sorriso fácil, identificava-se com o povo que cercava o presidente Lula. Ao lado dele, em uma história que se iniciou em 1973, suportou a dor da prisão do seu marido e costurou a primeira estrela branca do Partido dos Trabalhadores em uma bandeira vermelha.
Despreocupada com caprichos, pompa e circunstância, sem se mostrar como “bela, recatada e do lar”, Marisa tinha carisma próprio. Não precisava de subterfúgio para brilhar.
Forte a ponto de suportar por anos a fio a perseguição tão injusta quanto implacável dos algozes do projeto popular encabeçado por Lula, que inclusive redundou em seu indiciamento no âmbito da Operação Lava-Jato – sem provas, como só acontece na República de Curitiba -, mostrou essa força até nos momentos em que lutava pela vida no Sírio-Libanês. Morreu como quem vive eternamente, em oposição àqueles que, ainda vivos, já morreram envenenados pelo seu próprio ódio.
Marisa, para mim, será sempre a primeira-dama de todos os brasileiros. Ainda mais nos tempos de hoje, em que o epíteto “primeira-dama” passou a simbolizar futilidade, frivolidades e pequenez intelectual e humana da senhora Temer. Ainda mais em época de estado de exceção, em que petistas são perseguidos como os ditos hereges eram queimados pela Inquisição. Ainda mais agora, em que o veneno do ódio disseminado contra quem veste vermelho pulula nas redes sociais, nas mentes incautas, nos corações adoentados de brasileiros carentes de humanidade.
Marisa foi, é e sempre será a estrela primeira do Partido dos Trabalhadores, que não se há de apagar, mesmo ante a mais sombria e nebulosa das noites.
Marisa é, hoje, nossa inspiração para um Brasil mais justo.
Exatamente por isso, o luto que sentimos por sua partida não poderá permanecer. Deve-se mudar a última vogal. Deve-se convertê-lo em LUTA.
A luta de Marisa Letícia pela vida nestes últimos dez dias deve inspirar a de todos os brasileiros pelo restabelecimento da ordem democrática. Porque Marisa passa, agora, à categoria de ente espiritual a serviço da causa.
Marisa se eterniza em cada olhar de petista, em cada sorriso de brasileiro e brasileira, em cada criança que deixou de passar fome, em cada pobre que entrou no ensino superior, em cada emprego que foi gerado, em cada amor que foi gestado durante os treze anos em que o Partido dos Trabalhadores geriu a vida de todos nós.
Esta, aliás, é a imagem que fica para a posteridade, que deverá inspirar todos os nossos caminhos daqui para a frente: a imagem do amor. Amor representado pela atitude humana da família Lula da Silva de doar todos os órgãos que, até hoje, mantinham Marisa viva.
Porque é de amor – tal qual o de Marisa por Lula, por seus filhos e por todos os brasileiros – que este país precisa, urgentemente.
* Artigo escrito pelo jornalista e escritor Paulinho Oliveira que, a partir dessa sexta-feira, dia 03, passa a assinar coluna semanal em Sem Barreiras.
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