O sol ainda brilha na linha do Equador
O sorriso do homem da foto é espontâneo. Não se trata de um sorrir fabricado à custa de marketing eleitoral para angariar votos. Trata-se, isso sim, de uma arma poderosa em favor de um povo que vem sofrendo as agruras de uma crise econômica com ingredientes dramáticos como desemprego, inflação e endividamento externo.
O dono do sorriso é Lenín Moreno, que foi eleito, na última semana, presidente do Equador, com 51,16% dos votos, vencendo, em segundo turno, o banqueiro, empresário e supernumerário da Opus Dei Guillermo Lasso. Lenín Moreno, atual vice-presidente equatoriano, braço direito de Rafael Correa, é palestrante motivacional, com o objetivo de levar adiante os conceitos de alegria, harmonia e humor. As teorias que ensina, aplicou-as para si mesmo, a partir de 1998, quando, após sofrer um assalto, foi ferido à bala pelas costas, o que lhe custou o movimento das pernas, para sempre. Fez da sua dor motivação para viver e dar ânimo a tantos outros que sofrem as mesmas dores, físicas e psicológicas, decorrentes da limitação de movimentos.
A vitória do humor de Lenín Moreno sobre o pavor de Guillermo Lasso (que, como Aécio Neves, no Brasil, também é mau perdedor) é o sol que ainda brilha na linha do Equador, resistente ante as trevas da direita que vem crescendo, assustadoramente, na América do Sul. Sem fazer fronteira com o Brasil, do golpista Michel Temer, e com a Argentina, do reacionário Mauricio Macri, mas cercado pelos direitistas Pedro Pablo Kuczynski, do Peru, e Juan Manuel Santos, da Colômbia, Lenín Moreno terá, a partir de 24 de maio, quando tomar posse, um desafio, talvez, maior que o de conviver com a paraplegia há quase vinte anos – mostrar que o socialismo, encarnado hoje, no Equador, por Rafael Correa, ainda é a melhor alternativa para a redução da desigualdade social e uma melhor qualidade de vida do povo latinoamericano.
As eleições presidenciais equatorianas tiveram a assistência de observadores internacionais, e não há notícias de fraude, muito embora o mau perdedor Guillermo Lasso questione (sem provas) a lisura do processo. Desde 2007, o país convive com a estabilidade democrática, evento raro em um país repleto de golpes de Estado e mandatos presidenciais bruscamente interrompidos. A democracia plena, portanto, ainda é bastante jovem, tanto que Lenín Moreno será o presidente equatoriano de número 108 em 187 anos de República – uma média de 1,7 presidentes por ano.
Quando assumir a presidência do Equador, Lenín Moreno se tornará, salvo engano, o segundo chefe de Estado da História com deficiência motora – o único fora Franklin Delano Roosevelt, presidente dos Estados Unidos entre 1933 e 1945, paraplégico por conta de uma poliomielite que adquirira em 1921. Só por isso, a eleição de Moreno já merece lugar cativo na historiografia latinoamericana, uma razão a mais para estampar o sorriso da foto. Porém, para o Equador continuar sendo o sol que brilha, em uma América Latina cada vez mais turbulenta, será preciso muito mais que terapias do riso e técnicas motivacionais para Lenín Moreno, homem por demais qualificado para chefiar os destinos do povo equatoriano.
Boa sorte, pois, ao cadeirante Lenín Moreno, presidente eleito da República do Equador.
Sem nenhum comentário