Menino autista pede amigos em carta ao Papai Noel
Entre os tantos pedidos de celulares, videogames e brinquedos para o Natal, o Papai Noel recebeu uma cartinha diferente da cidade de Minduri (MG). O autor é o Miguel Castro Souza, de 12 anos, que tem autismo de grau leve e gostaria de ganhar algo simples, mas muito importante – amigos.
“Brinco na escola sozinho pois as crianças me odeiam por ser diferente”.
A carta emocionou a mãe, Cristina de Castro Silva Souza, que mandou uma foto dos escritos do Miguel para a filha que mora em Belo Horizonte (MG). Foi de lá que veio a ideia de postar o pedido em uma rede social. O resultado surpreendeu a família.
O post de Cristina viralizou e, até a tarde desta segunda-feira (24), já havia recebido mais de 25 mil curtidas e quase 60 mil compartilhamentos. Diante do sucesso da cartinha, ela resolveu criar um perfil para o filho. Assim, ela quer entregar a ele o que pediu de Natal.
“O que eu pensei: já que tem tanta gente enviando mensagem dizendo que quer ser amiga dele, eu vou criar um perfil para ele. E este vai ser o presente do Papai Noel para ele. Só vou mostrar no dia 25”, afirma.
Miguel tem recebido mensagens de várias partes do país, a maioria com a mesma intenção. “Quero ser seu (sua) amigo (a)”, dizem os internautas.
Miguel e o irmão gêmeo, que não tem autismo, estudam com a mesma turma desde os 6 anos de idade. A mãe dos meninos conta que desde que ingressou na escola, o pequeno Miguel é excluído entre os colegas. “Alguns, às vezes, conversam um pouquinho com ele, depois já não falavam mais. Com o passar do tempo, foram realmente isolando”, relata Cristina.
Papai Noel existe?
Cristina conta que Miguel foi o primeiro dos irmãos a descobrir que ela mesma é quem compra os presentes de Natal. No clima de fim de ano, a família assistiu ao filme “Crônicas de Natal” e, depois disso, Miguel decidiu que escreveria uma carta ao bom velhinho.
O irmão questionou o porquê do pedido, já que ele tinha falado que o Papai Noel não existe. A resposta foi surpreendente.
“O Miguel respondeu: ‘Existe, sim. Se ele desaparecer, é porque você não acredita mais’. E ele criou um foco tão grande que se o Papai Noel chegasse em pessoa e dissesse ‘eu não existo’, ele não acreditaria”, conta a mãe.
Diante disso, ela instruiu o filho que escrevesse a cartinha com antecedência para que o presente chegasse a tempo para a festa de Natal. E, enquanto Cristina fazia o almoço, ele escreveu a carta.
“Quando eu peguei o caderno e li o pedido dele, eu fiquei sem ação. Primeiro porque ali ele conseguiu expressar o que ele estava sentindo e, ao mesmo tempo, pensei como eu ia dar o presente para ele. Afinal, o Papai Noel sou eu. Se ele me pedisse algo muito caro, eu dividiria em mil vezes, mas aquele presente me fez pensar no que fazer.”
Na cartinha, ele escreveu que não tem amigos na escola e que sofre bullying por ter autismo, mas que os pais dizem que ele é muito inteligente e especial e terminou dizendo “Por que as outras pessoas não respeitam as outras que são diferentes?”.
Apoio
Além de comover a mãe, Miguel inspirou pessoas a contarem suas histórias.
“Sei bem o que é isso. Meu filho tem TOD (Transtorno Opositor Desafiador). É muito difícil, pois ele é uma criança que se irrita fácil. Ele diz que não quer voltar para a escola pois ninguém gosta dele. O meu coração sangra quando ele conta como algumas crianças tratam ele, não são todas e nem todos, pois tem adultos que também não entendem e tratam a criança mal. Miguel, peça ao Papai do Céu, pois ele ouve a oração feita com fé. Beijos no seu coração”, relata uma internauta.
“Miguel, temos muita coisa em comum: assim como você, sou autista de grau leve e também foi bem difícil para mim fazer amigos na escola. Hoje tenho 32 anos (estou já um pouco velhinho!), mas foi justamente quando tinha a sua idade que eu descobri que é possível fazer um amigo que entende você e gosta de você do jeito que você é”, diz outro internauta.
Agora a mãe espera que Miguel, além de fazer amigos online, possa ser aceito também pelo colegas.
“Eu gostaria que esta cartinha fosse levada às escolas e, no primeiro dia de aula, dissessem para as crianças para respeitarem os amiguinhos, porque é assim que eles se sentem. Espero que o espírito do Natal dure o ano todo”.
* Matéria de Camila Resende, do G1
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