Sem Barreiras muda para melhor
O blog Sem Barreiras nasceu no dia 11 de setembro de 2011 com o propósito de dar voz às pessoas com deficiência na cidade de Fortaleza e de ser um canal para se discutir os principais problemas que afligem esta categoria humana, apontar soluções e contar histórias de vida. Durante nove anos, cumprimos todas essas metas e fizemos mais: esclarecemos dúvidas, apresentamos inúmeras deficiência até então desconhecidas do grande público, ajudamos a formar uma mente coletiva mais cidadã e crítica quanto aos conceitos de acessibilidade e cidadania. Desde o princípio, defendemos que Acessibilidade e Cidadania andam juntas sempre, sendo uma dependente e complementar da outra. Sem Barreiras mostrou ainda como esta temática é carente. Em pouco tempo, invadimos as redes sociais e a recepção foi riquíssima. Facebook, instagram, twitter e youtube ajudaram a disseminar nosso conteúdo e ganhar mais e mais adeptos.
No raiar do décimo ano de vida, dois novos fatores vêm à baila. O primeiro, a necessidade de fazer o blog expandir sua abordagem e, assim, inserir-se em um universo mais amplo e significativo; o segundo, de forma mais intimista, que ele foi essencial para o crescimento pessoal do seu criador, o jornalista Victor Vasconcelos, que assina este texto. Completei 44 anos no último dia 18 de janeiro. Nasci com uma doença rara chamada Osteogênese Imperfeita e, por razões diversas, demorei cerca de trinta anos para mergulhar no mundo da deficiência e entender uma série de processos emocionais que ocorriam comigo e eu não tinha a sabedoria ou a capacidade de reconhecer. Entender, por exemplo, que a deficiência é parte de mim e que eu preciso aprender, não só a aceitar, mas também conviver com ela de forma saudável e amigável. A OI já foi encarada por mim como uma inimiga, pois eu odiava ser deficiente. Depois, passei a vê-la como minha rival, pois acreditava que nós fazíamos uma queda de braço diariamente e que precisava vencê-la antes de realizar qualquer atividade ou projeto. Era uma relação doentia, pautada no medo de novas fraturas e novas dores físicas. Sem Barreiras desempenhou, portanto, uma excelente tarefa de catarse e autoconhecimento e crescimento pessoal. O Victor de 2011 é, sem sombra de dúvidas, um Victor bem diferente deste que entra no ano de 2021. Este, muito mais maduro, consciente e conhecedor de minhas falhas, imperfeições e possibilidades.
É tempo de crescimento. É tempo de nos inserirmos no universo em que já estão os negros, as mulheres, os homossexuais e muitos outros. É tempo de assumirmos nossa posição de direito no campo dos Direitos Humanos. As lutas por cidadania, respeito e inclusão das pessoas com deficiência não são diferentes das batalhas travadas pelos afrodescendentes, homossexuais e mulheres. Sofremos os mesmos preconceitos, precisamos transpor as mesmas barreiras, lutar pelos mesmos espaços sociais. O jogador de futebol que é chamado de “negro” ou “macaco” pela torcida ou por um colega de profissão, o homossexual que é chamado de “bicha” ou “boiola” e a mulher que ouve as palavras “puta”, “vadia” e tantas outras estão no mesmo tablado do cadeirante “aleijado” ou do deficiente intelectual “mongol”. Respeitando as especificidades de cada segmento, a atitude discriminatória, grosseira e mal educada é a mesma. Por que devemos lutar em ringues diferentes? A separação aqui só enfraquece nosso lado até porque está tudo conectado. Quando Sem Barreiras exige mais cidadania para que os direitos das pessoas com deficiência sejam respeitados, a comunidade afro ou a LGBT+ ou o movimento feminista pedem a mesma coisa. Nosso inimigo é o mesmo, a ignorância. Precisamos unir forças para combatê-la.
Isto posto, Sem Barreiras inicia sua nova fase. O primeiro passo será a criação do BarreiraCast, o podcast da Acessibilidade e Cidadania. Nele, discutiremos a temática dos Direitos Humanos de forma ampla. Teremos as participações de diversas autoridades de diversas áreas. Traremos assunto do momento e discutiremos sua aplicação no campo dos Direitos Humanos. A temática da pessoa com deficiência continuará sendo debatida, logicamente, mas com um enfoque um pouco diferente. Qual a participação do movimento das pessoas com deficiência na discussão dos Direitos Humanos? Vamos tratar de Síndrome de Down? Sim, naturalmente, mas não apenas os aspectos médicos da condição. Traremos o impacto social, educativo e profissional daquela pessoa com Down, quais são seus direitos e de que forma a falta de mais cidadania no nosso país a impede de exercê-los em sua plenitude. Se, até hoje, Sem Barreiras buscou ensinar as pessoas o que são Autismo, Síndrome de Down, Osteogênese Imperfeita, Esclerose Lateral Amiotrófica, Atrofia Muscular Espinhal, Surdez, Cegueira, Libras, etc, vamos agora para o passo seguinte: inseri-los na sociedade e convidar vocês a aceitá-los como cidadãos e cidadãs. Convidamos vocês a se juntar a nós nessa nova caminhada.
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