Petrúcio Ferreira realiza sonho de fã com deficiência parecida com a sua
Em ano de Paralimpíada, Petrúcio Ferreira — que já conquistou medalha de ouro nos Jogos, em 2016 —, foi premiado com o maior dos reconhecimentos que poderia ter em sua vitoriosa carreira. É que ele realizou o sonho de uma criança, portadora de uma deficiência física bem parecida com a sua. O paratleta foi ao encontro do garoto Anthony, de cinco anos, e gastou um pouco do seu tempo com brincadeiras, boas risadas e, claro, corrida. Momentos que, segundo o próprio Petrúcio, valem mais que qualquer medalha.
Anthony mora em Brejo do Cruz, no Sertão da Paraíba, a aproximadamente 22km de São José do Brejo do Cruz, onde Petrúcio, a quem o menino já reconhece como um ídolo. E, embora pareça paradoxal, a satisfação pelo encontro ficou mais evidente no recordista mundial dos 100m que no garoto. Petrúcio voltou a ser criança por alguns instantes e se reabasteceu de motivação em sua preparação para os Jogos Paralímpicos, com início marcado para o dia 24 de agosto. “Tempos atrás eu tinha recebido vídeos dele (de Anthony). Em uma oportunidade em que eu estive na cidade dele, resolvi procurá-lo e conhecê-lo. No vídeo, ele dizia que queria ser igual a mim. Ele só me via pela televisão. Foi um encontro que me deixou muito feliz. Eu fico até sem palavras. Encontros como esses ficam marcados”, descreveu Petrúcio.
Até que chegasse o dia de os dois estarem perto um do outro, o contato acontecia de forma indireta, por meio de vídeos. Anthony assistia a vídeos de Petrúcio, que, por sua vez, já havia recebido imagens do pequeno. A iniciativa, inclusive, foi do campeão das pistas, que estava de passagem na cidade onde o menino mora e, lembrando daqueles contatos iniciais, foi em busca de pessoas que talvez conhecessem os pais do garoto. E precisou insistir para fazer com que o encontro, plano de última hora, se realizasse.
Encontro teve corrida e lembranças marcantes
O primeiro contato entre Petrúcio e Anthony parecia familiar e aconteceu no dia 31 de março deste ano. Sem timidez por parte do menino, com muita alegria dos dois lados e com sorrisos e emoção de sobra para quem presenciou os momentos em que os dois estiveram juntos. A menos de quatro meses para as Paralimpíadas, o paratleta foi até desafiado pelo seu pequeno fã para uma breve corrida, de pouquíssimos metros, mas que, certamente, vai ficar gravada na memória por toda a estrada que eles ainda têm a percorrer. “Quando ele (Anthony) vê o vídeo da visita de Petrúcio, ele fica muito alegre, muito feliz. A gente vê pela carinha dele. Ele diz que vai ser como Petrúcio” disse Patrícia, mãe de Anthony.
O garoto, sem titubear, confirma a fala de sua mãe e resume, com muita convicção, o sentimento nutrido por Petrúcio. “Eu quero correr mais ele. Petrúcio é, para mim, uma inspiração. Petrúcio é meu ídolo”, declarou Anthony.
E a corrida aconteceu. Petrúcio, é claro, aliviou para Anthony e viu de perto o entusiasmo de um pique curto, com muito gosto, de quem realmente tinha muito para mostrar. Não valeu nada, na prática, mas foi suficiente para despertar boas sensações no coração de uma criança que tem sonhos a serem desbravados no dia a dia e que, certamente, se tornou muito mais feliz ao se encontrar com quem tão cedo se identificou.
Deficiência parecida entre eles
O pequeno fã e o vitorioso ídolo têm algo em comum: ambos são deficientes físicos. Petrúcio perdeu parte do braço esquerdo quando ainda era uma criança muito nova — tinha apenas um ano e onze meses de vida —, em um acidente com uma máquina moedora de capim. Precisou crescer se reinventando frente às limitações que a sociedade poderia colocar em seu caminho. Só que ele, no auge dos seus 24 anos e com muitas medalhas ainda à sua espera, segue sendo soberano nos sonhos que se propõe a conquistar.
Já a história de Anthony é bem diferente. Isso porque a sua deficiência é congênita. Patrícia Resende, a sua mãe, vivenciou todo o período gestacional sem receber nenhuma sinalização. Os exames de ultrassom não sinalizavam nada. Só no dia do nascimento do menino é que foi a deficiência foi percebida. No entanto, a energia do garoto compensa qualquer tipo de limitação que ele possa ter. Sobra alegria, carisma e o desejo, ao menos por agora, de seguir os mesmos passos velozes de Petrúcio em busca de um futuro cheio de grandes feitos. “São momentos como esses que são mais valiosos que uma medalha. Justifica o meu esforço e o meu suor no dia a dia. Saber que eu sirvo de inspiração e de espelho para outras pessoas com deficiência é muito gratificante”, afirmou o multicampeão.
Treinos de olho em Tóquio não param
Com os Jogos Paralímpicos se aproximando, Petrúcio segue dando intensidade à sua preparação para sua segunda participação na principal competição em que pode atuar nas pistas. As atividades acontecem em João Pessoa, sempre acompanhado por Cícero Valdiran, o segundo representante brasileiro na modalidade em Tóquio, e por Pedro de Almeida, seu treinador.
O ritmo de treinos de Petrúcio, inclusive, tem sido bastante elogiado pelo seu técnico. Mesmo após algumas pausas no meio do caminho — por conta das restrições decorrentes da pandemia —, ele seguiu atuante, foi disciplinado com toda demanda atribuída e, de acordo com o seu comandante, teve, ainda assim, melhoria em seu desempenho, com expectativa de ótimas marcas caso estivesse competindo.
Com tanto talento, velocidade e propensão a grandes vitórias, Petrúcio Ferreira segue trilhando um caminho promissor e com muitos motivos para encher o Brasil, a Paraíba e o garoto Anthony de muito orgulho.
* Matéria de Vítor Oliveira, de Brejo do Cruz (PB), para o site globoesporte.com
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