“A dama que manca” foi o pesadelo do nazistas

03/06/2025 Deficiência Física, Destaques, Figuras Históricas PcD, Notícias 0

Virgínia Hall desempenhou suas missões na região agreste da França.

Virginia Hall formou sua carreira em uma época extremamente difícil. Rejeitada por ser manca, subjugada por ser mulher, e odiada por muitos, ela precisou enfrentar o machismo, o preconceito, e o pior fato de todos, uma guerra mundial controlada pelo nazismo.

Apesar das adversidades, ela superou as expectativas de todos e se tornou a mulher mais temida pela Gestapo (a polícia secreta nazista), e uma das maiores espiãs americanas. Contudo, para entender esse capítulo de sua vida, é preciso conhecer as origens de Virginia.

Hall nasceu em 1906 em Baltimore, no Estado de Maryland, EUA. Sendo muito bem instruída e vindo de uma família rica, ela aprendeu inglês, francês, italiano e alemão. Sonhava em se tornar diplomata.

Aos 20 anos de idade, se mudou para a Europa para finalizar seus estudos, e por lá encontrou um emprego que pudesse se aproximar do que queria, trabalhando como auxiliar na embaixada dos Estados Unidos em Varsóvia, Polônia.

Independente de seus esforços e competência, conseguir promoções e conquistar seu sonho se tornou uma frustração por conta de seu gênero, já que a diplomacia era vista como uma “carreira para homens”.

Em 1933, no entanto, ela viu sua aspiração se desmanchando quando sofreu um acidente enquanto caçava na Turquia, que lhe custou a perna esquerda, que precisou ser amputada abaixo do joelho. Desde aquele momento, Hall precisou começar a usar uma prótese de madeira para voltar a andar.

Depois de sua recuperação, tentou novamente uma vaga de diplomata, mas foi informada que o Departamento de Estado americano não poderia contratá-la por conta de sua posição de manca.

Ainda que ela tenha sido vista como inferior para ocupar o cargo, ela não desistiu e continuou trabalhando em outras embaixadas e consulados americanos pela Europa.

Na Segunda Guerra

Com a conquista de vários países da Europa pela Alemanha Nazista, Hall viu sua oportunidade de poder ajudar os Aliados e se voluntariou para dirigir ambulâncias para as forças armadas em meio ao front de combate na França.

Porém, em 1940 a França também foi tomada pelas tropas alemãs, e correndo risco de vida, Virginia se mudou para Londres. Com o poder de Hitler aumentando, o governo britânico criou a Executiva de Operações Especiais (Special Operations Executive, ou SOE, em inglês), uma ultrassecreta organização de espionagem que combatia os nazistas.

No começo, a SOE foi criada para ser exclusiva para homens, no entanto, muito tempo se passou e após 6 meses a organização não conseguiu recrutar uma única pessoa como voluntária, dado o perigo que a profissão oferecia.

Como ressalta a autora Sonia Purnell em artigo publicado na revista Time, o cargo era arriscado demais e as chances de sobrevivência estavam entre 50%, o que não tornava muito atraente aos oficiais. Porém, uma pessoa não tinha medo e estava esperando por esse momento há muito tempo: Virginia Hall.

A moça se voluntariou, e dado a dificuldade de recrutar pessoas, a organização aceitou seu nome. Finalmente em 1941, depois de receber diversos treinamentos das forças armadas, ela foi transferida para a França de Vichy, uma zona livre que ainda estava sobre regime colaboracionista francês. Ela mudou seu nome e entrou no local como uma repórter do New York Post.

A “dama que manca”

Hall se estabeleceu em Lyon. Sua primeira missão foi coordenar redes locais de resistência contra a ocupação nazista, que se alastrava cada vez mais por todo o país. Além disso, ela tinha a responsabilidade de estar sempre atenta às informações sobre o regime de Vichy e os movimentos de luta que se formavam.

Sua determinação e seu talento logo foram percebidos por todos os agentes, que ficaram impressionados com sua coragem, no entanto, os seus trabalhos magníficos também foram notados pelos inimigos.

Virginia Hall foi a única mulher com atuação civil a receber a Cruz de Serviço Distinto,

“Durante os anos seguintes, ela se tornaria legendária por seus feitos, primeiro com a SOE e depois com o OSS (o Escritório de Serviços Estratégicos, serviço de inteligência dos Estados Unidos durante a guerra e precursor da CIA)”, diz a biografia de Hall no site da CIA. “Ela organizou redes de agentes, ajudou prisioneiros de guerra fugitivos e recrutou homens e mulheres franceses para operar abrigos secretos – sempre um passo à frente da Gestapo, que queria desesperadamente capturar ‘a dama que manca’ (apelido dado à ela pelos nazistas)”.

O chefe da Gestapo daquela região, chamado Klaus Barbie e conhecido como “o carniceiro de Lyon”, iniciou uma busca pela mulher, e capturá-la virou seu maior desafio. Em pouco tempo a cidade se encheu de cartazes que estampavam o rosto da espiã americana, e ela se tornou uma das agentes mais procuradas pela polícia alemã.

Fugir para sobreviver

Em novembro de 1942 as forças nazistas estavam avançando rapidamente pela zona livre da França, e a vida de Hall estava por um triz. Perante a situação, ela decidiu fugir, e partiu a pé em meio a neve e arrastando sua prótese de madeira de mais de 3kg pelos montes Pirineus, em direção à Espanha.

Chegando no destino, ela foi presa por cruzar a fronteira ilegalmente, mas sua liberdade veio alguns dias depois. Por lá ela ficou até 1944, até que decidiu que deveria voltar para o combate, mesmo sendo um dos nomes mais procurados. A SOE recusou a enviá-la para a França novamente, mas a OSS americana concordou com o pedido.

Na segunda missão, ela entrou num país que agora já estava totalmente ocupado pelo Eixo. Dessa vez, ela se disfarçou de agricultora idosa e levou o codinome de Diane. Dali em diante, ela foi uma das grandes precursoras que ajudou na preparação do Dia D.

“Ela ajudou a treinar três batalhões de forças de resistência para lançar uma guerrilha contra forças alemãs”, segundo a CIA.

Um ano depois, em 1945, Hitler se viu perdido e tirou a própria vida, dando fim aos longos anos de guerra. Virginia, por sua vez, saiu vitoriosa e nunca foi pega pelos inimigos.

Mostrando todo o seu valor, ela foi a única mulher em atividade civil que foi condecorada com a Cruz de Serviço Distinto, pelo seu “heroísmo extraordinário”. Ela também recebeu outras condecorações dos governos francês e britânico.

Dali em diante, ela seguiu sua carreira na CIA, até se aposentar em 1966, aos 60 anos. Apesar de todo seu sucesso de carreira, Virginia continuou lutando contra o machismo e demonstrando constantemente que tinha o direito à sua profissão.

* Texto originalmente escrito por Giovanna de Matteo, do site Aventuras na História

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