“Os games me dão acesso a mundos onde gostaria de estar e não posso”
Vivo em uma UTI do Hospital das Clínicas desde os dois anos de idade por causa da poliomielite, a paralisia infantil. Comecei a jogar videogame em meados da década de 80, com o Telejogo Philco. Foi uma descoberta: pela primeira vez podia fazer coisas que não tinha condições de fazer, como jogar tênis. Depois veio o Atari e, desde então, não parei mais.
Na época dividia quarto com o Pedro, que também tinha poliomielite e era meu companheiro de jogo – chegou a fazer um milhão de pontos no “River Raid”. Um ajudava o outro quando empacávamos em uma fase. Queria ter os videogames que o Pedro pudesse jogar, pois ele tinha um problema no braço. Em 1992 o Pedro pegou uma infecção – nossa traqueia é muito exposta a esse tipo de contaminação – e faleceu.
Perdi meu companheiro de jogo, mas vieram os modos online, que me dão acesso a mundos onde gostaria de estar e não posso. Posso me transferir fisicamente para o corpo de um personagem e isso é demais. Amo jogos de mundo aberto, como “World of Warcraft”. Não quero só “matar” inimigos, e sim explorar cada lugar, voar em um dragão e encontrar um castelo. “WoW” me oferece isso. Também adoro “Assassin’s Creed”: lembro quando joguei o primeiro e achava delicioso: ao invés de correr, caminhava devagar, só pra passear.
Os videogames me dão a oportunidade de desafiar a mim mesmo, de não desistir e seguir em frente. Minha movimentação melhor é com as mãos, o braço não tem sustentação, então não consigo jogar Kinect e mesmo o Wii é difícil. Fiquei aliviado quando mostraram o controle do PlayStation 4 pela primeira vez e eu vi que poderia continuar jogando. Estou me divertindo bastante com “Battlefield 4”. Consigo ganhar vários rounds. Só me preocupo com a evolução da pólio: hoje ainda tenho condições de jogar, mas e quanto ao futuro?
– Paulo Machado, 47 anos, de São Paulo
* Texto retirado do site UOL Jogos
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